sábado, 6 de fevereiro de 2021

Nue

J’ai un nœud à la gorge

Je ne sais plus respirer

C’est la peur ou l’angoisse ?

Je vois flou

Je ne me connais plus

Nue sans carapace


Tenho um nó na garganta

Já não sei respirar 

É o medo ou a angústia? 

Vejo tudo desfocado

Não me conheço mais 

Nua sem carapaça. 


Souffle court



Le souffle est court
La trachée tressé
Le dos gelé de la sueur
Elle apprendra une chanson d'ailleurs
Une prière animal
Un cri visceral
De quoi a-t-elle peur, l’agnostique ?

Saliva

A minha pele na tua colada

Molhada de prazer

Marcada à força de te querer

A tua língua endiabrada

Que fala sem dizer

Quando enfim tempero a tua saliva de sal e de prazer.


Ma peau collée à la tienne 

Marquée à force de tant te vouloir 

Ta langue endiablée 

Parle sans rien dire

Quand enfin je tempère ta salive de sel et de plaisir. 

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Esta mulher

O que faço eu aqui?
Quem é esta que habita a minha carne?
Esta que é tão triste.
Esta que finge que sente mas mente.
Esta mulher sem fogo,
Que habita debaixo de uma carne que arde.

Qu'est ce que je fais ici ?
Qui est celle qui habite ma chair ?
Celle qui est triste. 
Celle qui fait semblent et qui ment. 
Cette femme sans feu, 
Qui habite en-dessous de ma chair qui brûle. 

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Carta de despedida da Madalena...

Quando contares a nossa história conta-a bem contada. Que todos saibam que fui assassinada, que já estava morta quando me suicidei, pois já não era nada, já não existia, já me havias previamente aniquilado. Não acredito que me deixei anular desta maneira. Eu, logo eu, que achava o suicídio o maior adágio da cobardia… tudo o que um dia não desejei para mim, abateu-me embuçado de amor-perfeito. O que querias mais de mim? O que é que estava ao meu alcance e não te dei? Que nojo, que nojo tenho de mim, de me teres tocado, trespassado, penetrado… de me ter deixado invadir por dentro e por fora. Que raiva de já não me conseguir achar sem ti. Que irónico, como se antes de tu apareceres eu não tivesse já uma vida, que bela vida. Era dona de mim, do mundo, de tudo, respirava uma alforria que até Baco cobiçaria, uma satisfação ingénuo-promíscua… que saudades de olhar para mim no espelho e não ficar um trapo por não contemplar também uns ombros fortes a traçarem-me. Dei-te os meus segredos… vasculhas-te todos os meus escombros, fantasmas e medos. E todos eles usaste em teu favor. Ensinaste-me a odiar-me. Tu, logo, tu, que gostavas que olhassem para ti como o ser com o pior fado que já se viu, como o sofredor, o pensador!… quero que morras, que ardas, que derretas. Eu fui digna de te petiscar o melhor, não de o deglutir… não, só de o petiscar quando, como e onde quisesses. Amo-te tanto. Que me fizeste tu? Desconstruir e depois construir a teu belo prazer. Como ficavas excitado cada vez que eu chorava, e foram tantas vezes, nunca tinha chorado assim antes. Que sina a minha, bem que a cartomante me disse que teria a mesma que todas as mulheres da minha estirpe. Homens que querem todas as mulheres, que são tão fracos que precisam de trair e de enganar para se sentirem os mais poderosos. Querias-me na prateleira, seu mentiroso compulsivo?! Despeço-me da vida com pena. Tinha tantos prazeres e todos eles soubeste tornar menos aprazíveis, detestáveis… soubeste fazer-me sentir culpada por ter prazeres, por ter coisas de que gostava..Carne, carne, foi como tu conseguiste que me sentisse somente. O nosso amor? Que amor é este, que castra, proíbe e anula. Tenho raiva de me ver tão pequenina. Sou muito fraca, não mereço viver, se não gosto da vida, se sou infeliz que faço eu aqui, entristeço os outros? Sou um monstro que só serve para te irritar, como gostas de dizer? Pois, vou-me embora. Para sempre, vou desaparecer na história. Tantas desilusões, decepções… tu nunca te fartas. Como te odeio. Algum dia me vais amar? Vais entender como é viver a dois? Não, não é um mais um na mesma casa. Trata-se de ceder, ceder muito, ceder tanto meu amor. Adaptar, mudar hábitos… e não odiar o outro a cada frustração ou vontade gorada. Ensinaste-me a odiar-te, a não confiar, a ter medo de falar, medo de me abrir, de ser sincera. Queres uma mulher que não sou. Lembras-te como era quando te apaixonas-te por mim? Olha para mim agora, decerto não me adivinhas os encantos. Meu querido amor, tantas coisas boas que fizemos, tanto me deste…! Seu dissimilado, és capaz de fazer com que eu te veja como um ser desprotegido, frágil, abandonado…quantas capas tens? Quantas caras? Eu não soube fazer-te feliz, não tinha passado para isso, tinha uma história, nunca soubeste viver com ela. Quando se ama, a história do outro é também a nossa história. Só aí, se começa uma história. A minha acabou

Pequenininha


Sou o que queres que seja.
Porto, cerveja ou tinto,
Sou aquilo que o teu desejo deseja.
Puta ou freira… moldada à tua maneira.
Existo em oposição a ti e não a teu lado.
Sou mais um objecto na tua prateleira,
Conformado com o seu fado.
Sou o que queres que seja,
Não existo sozinha.
Fazes com que me sinta pequenininha.

Vida

A vida corre,
Atrás de uns, à frente de outros.
Atropelando todos!...

sábado, 1 de maio de 2010

Um passeio: Convento de Seiça


Deixei aqui umas fotos-sugestão para um passeio na zona centro do país, em concreto, freguesia do Paião, concelho da Figueira da Foz, distrito de Coimbra. Lá jaz um convento que remonta às origens de Portugal, uma vez que foi mandado construir por D. Afonso Henriques.


Está em completo abandono, muitíssimo degradado, constituindo até um perigo para quem o queira apreciar de perto, explorá-lo é mesmo um risco!...


Foi comprado a um privado por um controverso presidente da Câmara da Figueira da Foz, por 225 mil euros (a confirmar), com promessas firmes de requalificação. Passados dez anos, os entendidos políticos (actuais) dizem que "já levanta dificuldades do ponto de vista técnico, em virtude do estado de degradação agravado pela vegetação na fachada", posto isto, parece que jogam para canto a hipótese de dar nova vida a um local tão mágico, tão mágico que até crescem oliveiras nas suas torres, torres que servem hoje de casa a alguns casais de cegonhas. Cegonhas sábias do ponto de vista histórico-cultural...

domingo, 11 de abril de 2010

Vociferado

Quero ser bicho, pedra, boneco.
Inimputável viver.

Na verdade quero o transacto.
Roer as pontas que me cravam.
Arestas, vértices, ângulos apertados…

Sou matemática, problemática e pouco exacta.

Não quero isto, quero aquilo:
- Arquitecta, bailarina, médica, indigente…
Macho, travesti, presidente.

A Beauvoir a Lispector,
Um Nietszche niilista,
O Pessoa, o Sá-Carneiro, até o Camões…
Quero-os fora de mim.
Cabrões.

Não sou feliz com o ateísmo do meu pai
Quero o cristianismo zonzo da minha mãe.
Culpa, consciência e punições…
Tenho-os todos afinal e só a mim faço o mal.

E tu, não me apresentes mais pensadores.
Na última página jamais vi a luz,
Só sombrios pedaços de mim.
Arcanos castradores.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Alfabético retrato

Cabelo esgadanhado, preso pela metade,
Pela metade deixado solto.
Olhos desmedidos densos e pardacentos,
Falsos distraídos em cada movimento.
O nariz colosso abstracto,
Com fama de empinado.
Orelhas atentas e esburacadas,
Tísicas e ornamentadas.
A boca disforme,
Apresenta os caninos descoloridos,
Pelo cigarro devotado.
Dizem que o todo é algo clássico.
Eu digo-o pouco simpático.
Eis aqui o meu alfabético retrato.

Comprar o céu

Corre ao alpendre cachopita
Que o padre Matos vem a caminho
Dar o senhor a beijar
O Vermelho está embarcado
Estende agora o rosmaninho para o senhor entrar
Apruma a mesinha, Com chouriço, pão e vinho… Não te esqueças do tostão!
Um dia vais querer o céu, E quem deu, deu… quem não deu abolorece no caixão.

Mana

O ontem passou taciturno.
Não me falou…
Nem de morte nem de sonho.
Acabou-se só.

O anteontem foi lutuoso.
Pesou-me…
Morreu alguém muito meu.

Foi-se nela metade da minha história.

A do tempo dos sonhos,
Da quadra das quimeras e devaneios.
De quando tudo era sôfrego e sempre pouco.

Dói. Martiriza. Ofende. Decompõe…
O mundo que foi nosso.

Hoje guardo-te em sonho.

Quem é que acredita que ele não pensa?



Zoo Montemor-o-Velho 2010

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Cinza frutuosa

Amputaram-me ainda fina.
Pensei-me frutuosa e distinta.
No barco meditava…
…vou ser jóia, mobília ou castiçal?
Mareei errática e mesclada, não fui nada.

Acabam agora de me fazer arder,
Fui quentura afinal.
Ouvi-os ciciar…
A minha cinza há-de ser cama fértil,
Serei frutuosa no final.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Excertos da carta de despedida da Simone escrita momentos antes da sua morte, endereçada a todos os companheiros não dignos desse título

"E eu, logo eu, que considerava o suicídio o maior adágio da cobardia... tudo o que um dia não quis para mim, abateu-me mascarado de amor-perfeito."

"Que saudades de olhar para mim no espelho e não ficar um trapo por não contemplar também uns ombros fortes a traçarem-me. Dei-te os meus segredos, vasculhas-te todos os meus escombros, fantasmas e medos. Todos eles usaste em teu favor. Ensinaste-me a odiar-me."

"Despeço-me da vida com pena. Tinha tantos prazeres e todos eles soubeste tornar menos aprazíveis, detestáveis... soubeste fazer-me sentir culpada por ter prazeres."

"Sabes quantos amigos tenho? Nenhum... para ti, todos os amigos machos tinham um único propósito, comer-me, como se eu não prestasse para mais nada."

"Lembras-te de como era quando te apaixonas-te por mim? Olha, olha bem, decerto não me adivinhas mais os encantos"

domingo, 8 de novembro de 2009

Te quiero

A boca dela curvilinear como as ancas...
Diz como quem suplica, como quem morde.

Embebeda-me o sopro, quente cacau,
Que traz compassos hispânicos no verbo.

Piso-lhe os pés miúdos na rumba,
Durante o entrelaço de narizes.

E no beijo que não se deu,
Peço-lhe que guarde o meu olhar servo...
Ela sibila... te quiero.

Pele

Da pele, do perfume, da voz.
Da mão que não sinto,
Do entrelaço asfixiante.
Sentimento enfermo, a saudade.

Já não escrevo, já não pinto.
Já não canto, já não danço.
Só te espero.
Sentimento vivo, a saudade.

Que longe me pareces, a um dia-luz de caminho. Deixa os Neandertais e vem para aqui. Ai a saudade, que sentimento intruso este. E o tempo casmurro que não se vai.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Desabafo que não me envaidece

Ontem o sono levou-me com a cara gelada de lágrimas. Em segundos era dia - porque o relógio assim o quis - lá fora estava escuro e o gelo da minha cara, via-o agora do lado de lá da janela. Como o mundo não pára e a roda dentada do meu destino, tanto encrava como engrena, tinha à minha espera uma luzita, ténue, mas sim... uma luz, uma mão para eu me agarrar com a mesma força a que me agarro quando decido vilipendiar a minh'alma. Uma entrevista espera-me. Estou cansada da forçada esfera privada. Dependente e inútil. Depois de trabalhar não entendo como é possível preferir o encosto dos subsídios, o pijama o dia inteiro, a roda mórbida do centro de emprego... Não sendo opção própria não me conformo com a minha bela esfera privada. Não sou melhor mãe por estar 24 horas com o meu pequeno guerreiro de olhos não garços. Desejem-me sorte...

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Viandante

Dos meus alvéolos aos bagos de pó bailarinos.
Anseio-te aqui dentro.
Como amor, amante e de meu corpo, viandante!

Em cada trinca na minha carne,
Quero boatos orvalhados e soalheiros.
Fragrâncias antípodas e nativas,
Como só tu sabes amalgamar.

Quero autenticar a poeira de aquém no teu suor,
Saborear nas tuas palavras sublimadas o que não vi.
Saber-me ininterruptamente ao pé de ti.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Nevoeiro de Laboreiro

Hoje viajei por entre vapores.
Fiz parte de uma narrativa,
onde se combinaram medos e amores.

De cada vez que o nevoeiro se ia,
no retrato era um apaixonado que se via.

Porém, quando tudo se escondia na túnica branca,
vinha o medo, vinha o pranto...

e um vulto supliciado que se desvendava na fotografia.

Castro Laboreiro
3 de Março de 2007

Pensamento

Encenamos um dialecto nosso só, o do corpo e da lágrima que o retoca, o da gota que flui até à boca, o do quente e frio, do vazio, do longe que nunca se faz perto, do conto e do recontado, do que foi feito e não mais dissolvido, do acídulo do passado e do futuro que nos alimenta.

domingo, 20 de setembro de 2009

Menino da feira

Tem três anos o menino.
Olhos gitanos e voláteis.
Duzentas feiras no currículo.
Léxico restrito.
Pregão fácil e meneio vivo.
Sabe de cor o dinheiro.
Longe da asa do criador altivo,
É feliz o menino da feira,
Com o seu mealheiro na algibeira.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Retalhos do meu Verão pelo país País

Pedrogão Grande - Leiria



Vila Viçosa - Évora




Aldeia de Terena - Alandroal



Aldeia de Terena - Alandroal



Monsaraz - Évora




Mértola - Beja




Monte Clérigo - Aljezur


Praia do Burgau - Vila do Bispo


Praia do Pinhão - Lagos


Praia da Arrifana - Aljezur



Palácio do Buçaco - Mata do Buçaco



Casa do Vale do Papo - Aldeia do Vale


Não, não foi só isto... poderia ainda deixar-vos retalhos de Zavial, Ingrina, Salema, Carrapateira, Bordeira, praia do Amado, Castelejo, Serpa, Moura, Mourão, Alqueva, Reguengos de Monsaraz, Alandroal e por fim Crato.

domingo, 23 de agosto de 2009

Desinteligências

Foi ao lado mais uma vez. Outra noite, da nossa curta existência, na mesma cama, sem que os teus pêlos das pernas açoitassem sequer a pele das minhas. Um fosso. Cabiam quantas pessoas entre nós? Diria seis, tal era a distância a que me querias de ti. Frustrei-te a péssima maqueta que trazias sob a jugular. Julgaste-me o espírito, os movimentos e os vocábulos. Não valia a pena tentar? Sou sobremodo presumível? Ainda não escutaste o quão rumorosa posso ser? Se não falas, falo pelos dois. Se não me calas, julgo-me certa. Sabes o que sobrevém do momento em que pensamos saber de cor o outro? Finda-se o apetite. Não te apetece mais aquele prato. Já lhe adivinhas o paladar. Achas que já me provaste toda? Já viste tudo o que aqui me vai… Não. Sei que te amo, todos os dias sinto o desejo ardente de me renovar, para que não enjoes. 

terça-feira, 21 de julho de 2009

TU

Desenhaste linhas carminas no meu regaço...
Rasgaste com querer a carne do meu ventre,
Redesenhando-me contornos,
Adulterando-me o corpo.

Passou o vento, passou o tempo…
Longe vai a hora não pequena.
As linhas rubras caiaram,
A carcaça cinzelou.

O útero cospe um fecundo grito.
Como ele te amou! …

domingo, 5 de julho de 2009

Linguagem

Que língua falas tu que só me aldabra? 
A gestual confunde. 
A corporal inibe. 
A verbal arrasa. 
Não entendo nada. 
Onde ficaram cativas as palavras nossas?
O corpo sempre quente e pronto? 
Os olhares doces e protectores? 
Tudo agora anda em confronto. 
Bem sei que não me entendes... 
Toca com a tua língua na minha e diz-me o que pretendes!...

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Malandra desocupada

Sozinha.
No banco do adro da igreja sentada,
Calada e absorta,
Sou voyeur de uma cidade solta.

Apoquento os apressados.
Descalça e a escrever,
Pensam-me uma malandra desocupada.
Olham uma e outra vez,
Espreitam em desrespeito.
Ouço um "boa tarde" desconfiado
e curioso dos meus feitos.

Mas ao invés de perguntar,
Discutem-me o destino.
Ouço-os sibilar,
E tantos defeitos estão eles a apontar...


*Hora de almoço de mais um longo dia de trabalho

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Rimas "à lá minute"

Um pé de dedos feios,
de unhas enfeitados.
Vejo eu aqui de cima,
por entre a saia aos quadrados.

O outro não o vejo,
tem nele o meu lindo corpo sentado.
Dormente já o sinto,
é muito peso para o coitado.


nota: hora de almoço,
no adro de uma igreja,
num dia quente do mês da cereja

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Cansados

Palpito-os cansados. 
Não encaixam as gretas das mãos, Cansadas. Já não as dão. 
Já não se dão. Não se tocam. 
A pele, Uma rugosa outra sulcada, Está cansada. 
Tal e qual o coração.

domingo, 28 de junho de 2009

O ter de ser

Padrão.
Gaveta.
Taxonomia.
Dogma.
Norma.
Regra.
Perfeição.
Cega.
Forma.
Apatia.
Anorexia.
Solidão.

...evasão?...
Não! Merda! A puta da resignação.

O que fazer quando começas a duvidar dos óbvios da existência?

Disse o tapete

Arrastei-me até ao sofá.
Não fiquei no chão, que vitória!...
Hoje, o tapete deu uma ajuda e não me quis.
Diz que já vivemos a nossa história.

Hoje


quarta-feira, 24 de junho de 2009

Na menopausa de um amor

Vim de ver o mar. Estava agreste a brisa, deixou-me triste. E já lá vão quarenta anos. Quatro décadas desde que partiste. Sim, sentei-me na barreira. Que triste sem ti.
Sabes que querem construir um molhe novo? Não eu não vou deixar, tenho um plano. Não te posso contar, ias achar uma loucura. Posso adiantar que implica aquela rocha em que te sentavas, não, não é essa, a outra, onde o teu pai te sentava enquanto pescava. Não acredito, como podes pensar em outra rocha, que não aquela em que fizemos tantas coisas? Bem, no dia em que começarem as obras, encaixo-me bem no teu sítio, continuo a achar que deixas-te impressas as tuas pernas naquela rocha... encaixo-me bem nela, visto o teu oleado e muno-me da tua querida cana de pesca e ao verem tal imagem, vão-me pensar um espectro de ti, vão fugir assombrados, vão pensar que aquela rocha, aquele molhe e aquela praia estão assombrados. Com tanta crendice que por aqui mora, ninguém terá coragem de continuar as obras. Com sorte, e para agradar aos mortos, ainda erguem uma estátua em tua homenagem. É loucura não é?
O que foi querido? Que foi que eu disse? Não, não estás morto em mim, sabes que jamais estarás meu jacinto-jasmim-camomilo, como poderias estar morto, se fazemos amor todos os dias? Se estivesses morto com quem estaria agora a conversar? Um dia destes vou ter contigo, achas que posso levar na bagagem o enxoval que tenho feito para os nossos meninos? Espero que sim, são roupinhas leves e frescas, com o calor que faz por aí...
Vejo a nossa quinta. Que raio nunca mais está pronta, disseste para esperar pela tua carta, com a passagem e a nossa nova morada, e nada, nunca mais chega. Bem sei como és picuinhas, estás a construir um castelo não é? Não é preciso nada dessas coisas, só nos quero aos dois, juntos, até pode ser numa daquelas cabanas que vi nas fotos. Pode?
Vou fazer as minhas malas, deixaste cá tantas coisas, levo-te tudo, prometo!
Um beijo salgado da tua orquidea-rosa-silvestre, que espera com fome a tua carta. Já sei que as telhas demoram a chegar até onde estás, não, não quero piscina... só quero ir para ao pé de ti.
Tenho um segredo, vou-te contar... sabes que há dois meses que não me vem o período, sabes o que isso significa meu jacinto-jasmim-camomilo?

segunda-feira, 15 de junho de 2009

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Carne

Gosto dos teus cabelos de metro salgados.
Sais do mar temperada,
Com os mamilos espetados nos triângulos molhados.

Meço a tua carne.
Faço contas...
O meu abraço sobra na tua cintura,
Mas não chega para laçar as tuas ancas.
Generosas ancas!...

Não...Não fales.
Sabes que eu não-falo.
E prefiro beber o teu suor às tuas palavras.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Cenário

No parapeito uma garrafa de porto bebida. No chão dois corpos magenta colados. Nas mãos carne quente e húmida fervilha. Da boca escorrem gemidos tintos. Na alma rebentam desejos famintos.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

A saudade de Ricardo Reis ilustrada por mim



Saudade

Deixei que dos teus olhos se soltassem mares de palavras enfeitados.
Os teus cabelos soltam praias perfumadas com as brisas do teu cheiro.
Nos teus lábios, um sabor a madrugadas de beijos acordados ao luar.
No teu peito crescem dunas alisadas pelos ventos da tua ausência.

Quero abraçar-te a alma qual naufrago sobre as ondas.

Inundas-me de desejos a escorrerem saudades!

sexta-feira, 8 de maio de 2009

sábado, 2 de maio de 2009

Fantasmas malditos

Fantasmas malditos,
Mudem-se para outro umbigo!!

Espectros que assombram tudo:
O que sinto, o que penso e o que digo...

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Olhar de...?


...afinal os olhos sempre enganam...




Até chegar o atrasado amanhecer

Onde quererá ele levar-me,
Ao me agarrar a mão sem permissão?

O coração logo se deixa levar,
Mas há algo que diz para me quedar.

Fico num dúbio desacerto.
Já não sei discernir,
O que posso ou não fazer!

Mas, se só vivo porque tenho coração,
Então leva-me meu amor,
Leva-me até chegar o atrasado amanhecer,
Que na aurora traz a razão.

Apanha-me sono

Não quero ir para a cama!

Não quero inventariar,
A porcaria que foi o meu dia.

Vou quando o sono me apanhar,
Quando não me der conta que penso…

Não, não me obrigues…!
Por favor…
Não sabes como custa.

Deixa-me para aqui…
Vai tu sonhar.

Daqui a pouco,
Quando eu já não pensar…encontro-te.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Máscaras



Quem tourear bem a palavra, até por forcado passa...! Máscaras, só vejo máscaras... cada faena, cada máscara...!

...porque afinal sou uma alegre parva!

Era eu uma parva alegre,

Quando pensava que o mundo me amava.

Foi preciso que alguém me tramasse,

para que desastrosamente confirmasse,

que afinal eu não passava de uma alegre parva.

domingo, 19 de abril de 2009

Desabotoados

1. Não olhes para o firmamento. O que há lá que te valha? O que houver é na Terra, Para lá dela não há nada. 

2. Não percebo o meu apetite, Ainda assim sinto-o especial. Talvez baste um palpite, Para que a refeição não acabe mal. 

3. Que olhar é esse? Tem tanto de não querer dizer, Como de ansiedade em revelar. Não é um brilho desinteressado, É um esconderijo, Que desarmado deixa o meu olhar. Até quando me pretendes ofuscar? 

4. Andamos às voltas. A fugir de nós e dos outros, E de vultos trôpegos, Escondidos dentro da roda que cada volta forma.

sábado, 18 de abril de 2009

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Numa noite solitária


Na janela numa noite escura e solitária, sem rosto, será um ele ou uma ela?

A morte da Nina Simone



...com todos os blues no ventre e nas canelas o piano de sempre...

terça-feira, 14 de abril de 2009

Porque nem sempre fui feliz

Como pode um olhar alheio assustar?
E um sorriso?
Muito mal devo eu estar,
quando perante isso,
também eu não sorriu.

Estou cansada...
Farta de olhar no espelho,
e não ser capaz de gostar.
Quase tenho pena de mim.
Pena por não ser capaz de fugir.
O peso de alguém desiludir,
todos os dias me faz cá ficar.

Não há solidão como esta.
Quando o corpo é merda,
e do intelecto pouco resta.

Só me sei lamentar.
O que está feito,
para sempre há-de estar.

Não tenho autorização sobre mim,
Roubaram-me o corpo e a alma de arrasto.

Levanto-me todos os dias,
com as pernas de quem me deu a vida.
Quando isso não bastar,
deixarei de ser uma pseudo suicida.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Alguém me disse que a Nina Simone procurava um menino azul...


Aqui fica o primeiro retrato do meu filho, feito ainda na maternidade...

A tua respiração

Sozinha durmo mal, contigo mal durmo... Fico distraída, alheada, desconfortável, encaixando o meu corpo no teu, qual contorcionista, procurando o teu nariz, tudo para exalar a tua respiração, tão única, inequívoca, excêntrica...

E quando não estás, meto-me dentro do teu pijama, respiro a tua almofada e abraço com uma força umbilical o teu filho, que, por sorte, também é o meu.

Saudades, meu génio crespo de olhos garços.

A minha Nina Simone


Esta Nina Simone aconteceu na sequência de uma ventania desafiadora...
Nina Simone morreu enquanto dormia, depois de uma vida a cantar a "música do Diabo"... e a lutar contra uns quantos diabretes, incluindo aquele que um dia lhe disse "aceito".
Gostava de me chamar Simone, "Nina Simone de Beauvoir", bem... que exagero, não almejo tamanha perfeição.


Cá estou eu a vê-los passar

Cá estou a vê-los passar.
Já nem sei quantos são,
Tão pouco eles me trazem.

É igual se vêm pintados ou cinzentos,
Em mim a sua cor não entra...
Desisti da velha crença,
De que à sua passagem tudo fica são.

São eles que me vêem vaguear.
Já não sabem quem sou.
Já nada lhes dou...

quinta-feira, 2 de abril de 2009

quarta-feira, 1 de abril de 2009

terça-feira, 31 de março de 2009

Mãos farpadas


"Sabes lá roçar a terra..."


"E os rios de Angola, sabes?"


"Fiz a 4ª classe com distinção..."


"Com as oportunidades que te deram, eu tinha chegado a presidente..."


Neste mundo de doutores, avô, nunca te cales... pudera eu ter nas minhas mãos a sabedoria que as tuas encerram!

terça-feira, 24 de março de 2009

Eu, falo demais

E se te faltar a coragem?
Falta.

Sentes a minha falta?
Fala!
Há qualquer coisa que me escapa...

...Quando de intempestivo, severo, quase grosseiro, passas a desarmado, esquivo e sussurras "Não tenho nada para dizer". Aí, dizes-me tudo.

Eu falo demais porque gosto de ti.

sexta-feira, 20 de março de 2009

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Uma amiga assim

Vi-a a primeira vez numa tarde solarenga, queria tanto vê-la. Caminhava na minha direcção, leve, elegante, tranquila... não era bem na minha direcção, era na dele, como se houvesse um spaghetti gigante ligando as suas bocas, apaixonados mordiam a distância. Os olhos não se distraiam. Invejei-a logo. Invejei-lhe o cabelo, um dos mais bonitos que já vi, cobicei-lhe as botas de montanhista, eu queria umas mesmo iguais àquelas, mas já não as usa. Passo a explicar, a minha teoria é que ela as usou enquanto andava à procura da montanha da sua vida, depois conheceu-o e não mais precisou delas. O bom gosto foi extensível a tudo o que calçou depois delas. E a elegância... grrr, magrinha e torneada, sem adereços tontos, roupas limpas, não é limpas de lavadas, quer dizer isso também, mas é limpas de marcas e brilhantes e desenhos... limpas como a sua alma, ela era tão simples. E tinha um cheirinho muito súbtil, como ela toda. Depois, conheci-a bem, vivemos muitos dias e muitas noites a quatro, eramos geniais. Deu-me cafés da Etiópia, chás de limonete, sopa de tomate (única e delciosa), a Little Annie... deu-me olhares, abraços, estendia-me a mão com vontade, não era frete, não senhor. Ela era cá de uma beleza e inteligência emocionais, que saudades. Invejei-lhe também os lábios carnudos e desenhados e as calças skinny, sim ela tinha pernas para usar dessas. Era culta e não arriscava quando não tinha a certeza. Não era gananciosa, não ligava muito ao dinheiro, uma vez saiu-lhe um poker de ases... e ela foi apostando, apostando como quem tinha apenas um par. Agora que nunca estou com ela, fico com tanta pena de não ter sido mais afectuosa... de não a ter mimado mais, de não lhe ter esborrachado as bochechas rosadas com beijinhos. Nunca soube se o podia ter feito, acho que sim, vi-a a ser tão maternal com outras pessoas. Ela sem querer esburacou-me a carapaça. Esta carapaça que tenho que afasta os outros. Ela foi uma amiga assim, assim daquelas com que se tem vontade de passar noites em branco, de saber tudo e contar tudo, porque ela sabe guardar segredos e não moraliza, ouve só e guarda. Querida H. apeteceu-me escrever isto... foi de rompante, estou a pressentir coisas. Gostava de te contar os meus segredos.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

35 anos de um desejado dia 25

A mãe dele rezava terços ao borralho.
Calor que a enganava, rezas que a aqueciam.

O pai cavava.
Cada enxadada,
Cada menino de outro se enterrava.

Ela pura o esperava.
No lugar dos braços dele, só o tear encontrava.
Teceu tapetes que ele nunca pisou.
Teceu colchas para o eterno enxoval.

O único que ela amou, um barco o levou,
Só o trouxe o jornal.

Ela pura o espera...

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Solitáte

Do teu longe não se faz perto.
A tua ausência não aumenta o que a ti me une,
as saudades não me fazem bem.

Cresce a certeza da falta que me fazes,
cresce a dúvida... brotam hipóteses.

Idealizo a tua metade.
Realizo imagens tuas com ela.
Sinto o teu cheiro, cheirado por ela.
Sinto o teu laço, mas não em mim... na cintura dela.
Vejo-te seduzido, meloso, dengoso... como já não és comigo.
Que pesadelo antigo.

Vem para aqui.
Sussurra-me o que quero ouvir.
Não sussurres, por favor, grita!!

Uma vez passei por Lamego...

...e trouxe esta imagem "cómego" :)

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

O primeiro "CONTículO"

Subo, desço, sento-me no terceiro de nove degraus.
Na parede as minhas mãos encontram, de olhos fechados, o rasto distinto pelo tempo. Como encaixam bem, são sempre as minhas sozinhas.
No chão, os degraus descobrem-se onde os grãos de pó se casam em descontraída poligamia… As minhas pegadas robustas calcam e desenham o pó celibatário. Ficam marcadas.
Depois de mim, alguém passou. Sei-o pela parede, pelo seu murmurar amedrontado, que me faz reparar num rasto de mãos que não é meu.
No chão, pés limpos que repisam as pegadas já marcadas, não ficam registados. Alguém subiu a minha escada anonimamente.
Absurdo este… comodidade talvez? Pisar unicamente onde alguém já pisou.
Apanho-o ao descer.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Telhas, telhado, tecto...e Céu!

Gosto das telhas, vermelho tijolo. Não gosto que me obriguem a abrigar-me sob um telhado. 
Como são bonitos os tectos de estuque antigo trabalhado. Como custa tocar-lhes. 
Telhas, telhado, tecto...e Céu! 
Obrigam-me a viver debaixo dele, Flagelo-me por não o conseguir alcançar.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Em Peste a contemplar Buda...

Algures do lado de cá foi gerado o ser mais perfeito e delicado e lindo que se viu...

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

o pequeno guerreiro do Minho

Olhos negros e rasgados.
Cabelo crespo e dourado.
Rosto alvo e rosado.
Corpo esguio e desenvolto.
Dedos nervosos em mãos ansiosas.
Pés desenhados, perfeitos...
Perninhas titubiantes,
Ao comando de vontades caprichosas.


Sim, um dia foste assim, meu pequeno guerreiro do Minho... Capricha sempre nas vontades.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

o meu querido avô




Quando o modelo viu a obra final exclamou apenas "Está bonito, quem é? É o salazar?"

domingo, 21 de dezembro de 2008

ensina-me a emudecer essas vozes

São tantas vozes… Cedo-lhes um corpo. Converto-as em gente. 
Já só vozes não são. 
Fustigam-me essas gentes que engendro. Açoitam-me os medos… Mas não temo. Copulam meramente sob os meus cabelos. Ensina-me a emudecer essas vozes…

meu amor, das trevas já experimentei

Que loucura se apodera de mim,
Que me faz sentir estranha e só.
Que me faz procurar um igual,
E não encontrar.
Olho em redor…
Não há quem me perceba,
Quem tenha apreço pelo que faço,
Não por ser belo,
Mas porque me arranca sempre um pedaço.

Se olhar de novo,
E se, a mim, te quiseres mostrar,
Talvez nos possamos encontrar.
Aí também vais deixar de ser estranho e só,
Vamo-nos aconchegar um no outro,
E viver a loucura que sobre nós paira.
Tudo o que disseres eu vou perceber,
Tudo o que fizeres eu vou apreciar,

Meu amor,
Eu também das trevas já experimentei.
E se pensar no nojo que metem estas alminhas…
Acho que até gostei.

sábado, 20 de dezembro de 2008

vou-te desenhar uma flor

Vou-te desenhar uma flor,
Segue-me da raiz ao perfume.
Pára, concentra-te:
Finas linhas envoltas de terra,
Espreitam e se tornam grossas,
Agora não são térreamente escuras,
São verdinhas as linhas.
E ao lutar pelo calor, separam-se.
Quando fazem as pazes,
São de novo uma só linha.
Como se amor fizessem,
Dão à luz e ao calor,
O fruto do seu orgasmo,
Uma bela e tímida flor.
Primeiro cautelosa e de seda envolta,
Mas, mal vê quão bonito isto é ao nascer,
Desabrocha numa paleta de cores,
E que perfumadas tonalidades.
Cheira-a, inala cada cor.
A minha bela flor,
Não é eterna,
Cada dia perde uma pétala,
E quando olhares de novo,
Só as secas raízes restam dela.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

"O discurso do coitadinho"

Uma pessoa, seguidora do meu blogue não assumida, disse-me, em privado, que a minha poesia e o meu discurso em geral estavam plenos do "discurso do coitadinho" e que eu devia ser uma pessoa muito triste e infeliz... E-R-R-A-D-O!! Felizmente, amo exacerbadamente e, sou muito bem amada, tenho uma família feliz, um filho que nem sei adjectivar de tão delicioso que é, sou quasi-realizada profissionalmente...

Não sei escrever sobre coisas bonitas... nunca escrevi sobre o meu amor, nunca escrevi sobre o meu filho... e são as únicas coisas que deveras me importam nesta sumária existência .

Ao longo do dia tenho picos de felicidade, felicidade infantil, imatura, arrebatadora, absorta... nesses picos sou feliz, sou mesmo feliz. Não obstante as vivências que deixam marcas, e são essas marcas que tento esconjurar...

Aqui, neste blogue, não quero que me façam psicanálise, não quero que dissequem a minha pessoa, isso faço eu melhor que ninguém. Quero poder partilhar os meus poemas, fotografias, quadros, quero-os à prova... só isso, quero expô-los à crítica não coada...

Faço-me entender?

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Martina entorpecida pelo Camus


Mais do que entorpecida "sensual e bela de afagos e pose" por José Movilha

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Uma senhora


Esmago nas mãos o tabaco blasfemado

Dou por mim a enrolar mais um cigarro...
Esmago nas mãos o tabaco blasfemado.
Amordaço-o com vontade!
Sai de mim tão perfeitinho…
Dá gosto contemplá-lo.
Mas para quê tanta perícia,
Se em duas ou três inspirações,
E três ou quatro baforadas…
Ele não é mais do que nada?!
De súbito ao apagá-lo,
Sujo as mãos de cinza sua.
Percebo então que há sempre algo que nunca abala…

Certo dia passei por lá

Certo dia passei por lá.
Vi-o sentado como sempre.
Olhou-me com aqueles olhos dormentes,
De quem só olha e já nada sente.

A mim não esticou a mão...

Ainda assim deixei-o mal…
Logo lhe mandei uma moeda,
Que não lhe caiu no papelão.
Foi certeira ao orgulho,
Foi certeira ao coração.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Sou pouco mais do que a pele torneia

Chega.
Imploro-te! Por hoje chega.

Já não tenho mais subterfúgios.
Já não tenho orgulho.
Já não tenho personalidade…
Já não sou uma pessoa como outra qualquer.

Sou agora um corpo com apelidos,
Largados à mais asquerosa criatividade.
Sou tudo o que me quiserem chamar.
Já não sou eu.

Sou pouco mais do que a pele torneia…
Já nem é sangue o que me corre nas veias.
São só lágrimas pela vossa razão abafadas.

Já não tenho mais evasivas,
Esgotei-as nos meus vis pensamentos.
Já não sou nada.
Não há argúcia que me valha.

Mas, porque é que não me deixam ser nada?
Chega! Por hoje chega…
Estou empanturrada de só contemplar falhas!

Um cinzeiro

Um cinzeiro é tudo o que peço.
Um cemitério descartável de fugazes viagens.

O roteiro dos sujos corpos,
precisa de ser enterrado.

Não pede misericordiosa missa,
pede somente... um buraco no esquecimento.

Entanto, o passado não se descarta.
Não se enterra o que tão bem na mente escava.

domingo, 14 de dezembro de 2008

George Orwell


Este é o George Orwell, por mim...


Nasceu em 1903 e morreu em 1950, tempo suficiente para nos deixar obras brilhantes. A sua vida é para mim fascinante. Foi bafejado pela sorte ao ter Aldous Huxley como professor...

retratos de um passado meu


Encontrei isto numa caixa poeirenta de uma tia-avó...

sábado, 13 de dezembro de 2008

Sonhar

Sonhar,
Deixo-me ir para lá da ampulheta.
Sou sugada por uma vida que não é minha,
Mas que vivo enquanto penso.
Cristalizo cada momento,
Que bom que é ter poder sobre o tempo.
Estou capaz de não acordar,
se o fizer entro em desacordo com aquilo que sou quando não sonho...

Não sei o que lhe chamar...


... é só um pormenor recortado de uma grande (tentativa) tela!

Um senhor


Reunião geral de professores


Aqui vai o resultado de uma reunião geral de professores de duas horas...

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Sem título

Outrora forte.
Agora sem vida, tudo é cinza...
deixada aqui, aqui esquecida.

Foram tantos os desenganos, quantos são os débeis ramos,
Que abanam ao passar do fumo,
Vapor que tudo leva...

...e se encarrega de nos mostrar que mais do que fumo não somos.

Ter um blog

visito vários blogs regularmente, pensava muito em ter um, mas depois achava que já não queria, até que... aqui está ele. Era cobarde espreitar tantos blogs, e não ter um para ser espreitado e criticado e...e...e....!

Sou muito muuito muuuito vaidosa e sensível à crítica alheia... e, como tudo o que faço ou deixo de fazer é criticável... vamos poder faze-lo aqui!

Não sei bem como vai ser, vou deixando pensamentos e opiniões...

ok, está oficialmente apresentado!

cumprimentos a todos