terça-feira, 21 de julho de 2009

TU

Desenhaste linhas carminas no meu regaço...
Rasgaste com querer a carne do meu ventre,
Redesenhando-me contornos,
Adulterando-me o corpo.

Passou o vento, passou o tempo…
Longe vai a hora não pequena.
As linhas rubras caiaram,
A carcaça cinzelou.

O útero cospe um fecundo grito.
Como ele te amou! …

domingo, 5 de julho de 2009

Linguagem

Que língua falas tu que só me aldabra? 
A gestual confunde. 
A corporal inibe. 
A verbal arrasa. 
Não entendo nada. 
Onde ficaram cativas as palavras nossas?
O corpo sempre quente e pronto? 
Os olhares doces e protectores? 
Tudo agora anda em confronto. 
Bem sei que não me entendes... 
Toca com a tua língua na minha e diz-me o que pretendes!...

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Malandra desocupada

Sozinha.
No banco do adro da igreja sentada,
Calada e absorta,
Sou voyeur de uma cidade solta.

Apoquento os apressados.
Descalça e a escrever,
Pensam-me uma malandra desocupada.
Olham uma e outra vez,
Espreitam em desrespeito.
Ouço um "boa tarde" desconfiado
e curioso dos meus feitos.

Mas ao invés de perguntar,
Discutem-me o destino.
Ouço-os sibilar,
E tantos defeitos estão eles a apontar...


*Hora de almoço de mais um longo dia de trabalho

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Rimas "à lá minute"

Um pé de dedos feios,
de unhas enfeitados.
Vejo eu aqui de cima,
por entre a saia aos quadrados.

O outro não o vejo,
tem nele o meu lindo corpo sentado.
Dormente já o sinto,
é muito peso para o coitado.


nota: hora de almoço,
no adro de uma igreja,
num dia quente do mês da cereja