quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Uma amiga assim

Vi-a a primeira vez numa tarde solarenga, queria tanto vê-la. Caminhava na minha direcção, leve, elegante, tranquila... não era bem na minha direcção, era na dele, como se houvesse um spaghetti gigante ligando as suas bocas, apaixonados mordiam a distância. Os olhos não se distraiam. Invejei-a logo. Invejei-lhe o cabelo, um dos mais bonitos que já vi, cobicei-lhe as botas de montanhista, eu queria umas mesmo iguais àquelas, mas já não as usa. Passo a explicar, a minha teoria é que ela as usou enquanto andava à procura da montanha da sua vida, depois conheceu-o e não mais precisou delas. O bom gosto foi extensível a tudo o que calçou depois delas. E a elegância... grrr, magrinha e torneada, sem adereços tontos, roupas limpas, não é limpas de lavadas, quer dizer isso também, mas é limpas de marcas e brilhantes e desenhos... limpas como a sua alma, ela era tão simples. E tinha um cheirinho muito súbtil, como ela toda. Depois, conheci-a bem, vivemos muitos dias e muitas noites a quatro, eramos geniais. Deu-me cafés da Etiópia, chás de limonete, sopa de tomate (única e delciosa), a Little Annie... deu-me olhares, abraços, estendia-me a mão com vontade, não era frete, não senhor. Ela era cá de uma beleza e inteligência emocionais, que saudades. Invejei-lhe também os lábios carnudos e desenhados e as calças skinny, sim ela tinha pernas para usar dessas. Era culta e não arriscava quando não tinha a certeza. Não era gananciosa, não ligava muito ao dinheiro, uma vez saiu-lhe um poker de ases... e ela foi apostando, apostando como quem tinha apenas um par. Agora que nunca estou com ela, fico com tanta pena de não ter sido mais afectuosa... de não a ter mimado mais, de não lhe ter esborrachado as bochechas rosadas com beijinhos. Nunca soube se o podia ter feito, acho que sim, vi-a a ser tão maternal com outras pessoas. Ela sem querer esburacou-me a carapaça. Esta carapaça que tenho que afasta os outros. Ela foi uma amiga assim, assim daquelas com que se tem vontade de passar noites em branco, de saber tudo e contar tudo, porque ela sabe guardar segredos e não moraliza, ouve só e guarda. Querida H. apeteceu-me escrever isto... foi de rompante, estou a pressentir coisas. Gostava de te contar os meus segredos.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

35 anos de um desejado dia 25

A mãe dele rezava terços ao borralho.
Calor que a enganava, rezas que a aqueciam.

O pai cavava.
Cada enxadada,
Cada menino de outro se enterrava.

Ela pura o esperava.
No lugar dos braços dele, só o tear encontrava.
Teceu tapetes que ele nunca pisou.
Teceu colchas para o eterno enxoval.

O único que ela amou, um barco o levou,
Só o trouxe o jornal.

Ela pura o espera...

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Solitáte

Do teu longe não se faz perto.
A tua ausência não aumenta o que a ti me une,
as saudades não me fazem bem.

Cresce a certeza da falta que me fazes,
cresce a dúvida... brotam hipóteses.

Idealizo a tua metade.
Realizo imagens tuas com ela.
Sinto o teu cheiro, cheirado por ela.
Sinto o teu laço, mas não em mim... na cintura dela.
Vejo-te seduzido, meloso, dengoso... como já não és comigo.
Que pesadelo antigo.

Vem para aqui.
Sussurra-me o que quero ouvir.
Não sussurres, por favor, grita!!

Uma vez passei por Lamego...

...e trouxe esta imagem "cómego" :)