sábado, 1 de maio de 2010

Um passeio: Convento de Seiça


Deixei aqui umas fotos-sugestão para um passeio na zona centro do país, em concreto, freguesia do Paião, concelho da Figueira da Foz, distrito de Coimbra. Lá jaz um convento que remonta às origens de Portugal, uma vez que foi mandado construir por D. Afonso Henriques.


Está em completo abandono, muitíssimo degradado, constituindo até um perigo para quem o queira apreciar de perto, explorá-lo é mesmo um risco!...


Foi comprado a um privado por um controverso presidente da Câmara da Figueira da Foz, por 225 mil euros (a confirmar), com promessas firmes de requalificação. Passados dez anos, os entendidos políticos (actuais) dizem que "já levanta dificuldades do ponto de vista técnico, em virtude do estado de degradação agravado pela vegetação na fachada", posto isto, parece que jogam para canto a hipótese de dar nova vida a um local tão mágico, tão mágico que até crescem oliveiras nas suas torres, torres que servem hoje de casa a alguns casais de cegonhas. Cegonhas sábias do ponto de vista histórico-cultural...

domingo, 11 de abril de 2010

Vociferado

Quero ser bicho, pedra, boneco.
Inimputável viver.

Na verdade quero o transacto.
Roer as pontas que me cravam.
Arestas, vértices, ângulos apertados…

Sou matemática, problemática e pouco exacta.

Não quero isto, quero aquilo:
- Arquitecta, bailarina, médica, indigente…
Macho, travesti, presidente.

A Beauvoir a Lispector,
Um Nietszche niilista,
O Pessoa, o Sá-Carneiro, até o Camões…
Quero-os fora de mim.
Cabrões.

Não sou feliz com o ateísmo do meu pai
Quero o cristianismo zonzo da minha mãe.
Culpa, consciência e punições…
Tenho-os todos afinal e só a mim faço o mal.

E tu, não me apresentes mais pensadores.
Na última página jamais vi a luz,
Só sombrios pedaços de mim.
Arcanos castradores.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Alfabético retrato

Cabelo esgadanhado, preso pela metade,
Pela metade deixado solto.
Olhos desmedidos densos e pardacentos,
Falsos distraídos em cada movimento.
O nariz colosso abstracto,
Com fama de empinado.
Orelhas atentas e esburacadas,
Tísicas e ornamentadas.
A boca disforme,
Apresenta os caninos descoloridos,
Pelo cigarro devotado.
Dizem que o todo é algo clássico.
Eu digo-o pouco simpático.
Eis aqui o meu alfabético retrato.

Comprar o céu

Corre ao alpendre cachopita
Que o padre Matos vem a caminho
Dar o senhor a beijar
O Vermelho está embarcado
Estende agora o rosmaninho para o senhor entrar
Apruma a mesinha, Com chouriço, pão e vinho… Não te esqueças do tostão!
Um dia vais querer o céu, E quem deu, deu… quem não deu abolorece no caixão.

Mana

O ontem passou taciturno.
Não me falou…
Nem de morte nem de sonho.
Acabou-se só.

O anteontem foi lutuoso.
Pesou-me…
Morreu alguém muito meu.

Foi-se nela metade da minha história.

A do tempo dos sonhos,
Da quadra das quimeras e devaneios.
De quando tudo era sôfrego e sempre pouco.

Dói. Martiriza. Ofende. Decompõe…
O mundo que foi nosso.

Hoje guardo-te em sonho.

Quem é que acredita que ele não pensa?



Zoo Montemor-o-Velho 2010

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Cinza frutuosa

Amputaram-me ainda fina.
Pensei-me frutuosa e distinta.
No barco meditava…
…vou ser jóia, mobília ou castiçal?
Mareei errática e mesclada, não fui nada.

Acabam agora de me fazer arder,
Fui quentura afinal.
Ouvi-os ciciar…
A minha cinza há-de ser cama fértil,
Serei frutuosa no final.