domingo, 23 de agosto de 2009

Desinteligências

Foi ao lado mais uma vez. Outra noite, da nossa curta existência, na mesma cama, sem que os teus pêlos das pernas açoitassem sequer a pele das minhas. Um fosso. Cabiam quantas pessoas entre nós? Diria seis, tal era a distância a que me querias de ti. Frustrei-te a péssima maqueta que trazias sob a jugular. Julgaste-me o espírito, os movimentos e os vocábulos. Não valia a pena tentar? Sou sobremodo presumível? Ainda não escutaste o quão rumorosa posso ser? Se não falas, falo pelos dois. Se não me calas, julgo-me certa. Sabes o que sobrevém do momento em que pensamos saber de cor o outro? Finda-se o apetite. Não te apetece mais aquele prato. Já lhe adivinhas o paladar. Achas que já me provaste toda? Já viste tudo o que aqui me vai… Não. Sei que te amo, todos os dias sinto o desejo ardente de me renovar, para que não enjoes. 

4 comentários:

  1. A distância mais difícil de suportar é aquela que sentimos relativamente a alguém que está perto.

    Um beijo

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  2. Nenhum amor sobrevive à distância da pele, à ausência de apelo. Qualquer tentativa para viver assim, numa cama tão larga, parece-me um extraordinário exercício de masoquismo. Há que pensar nisso...

    Beijinho grande.
    C.

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  3. Felizmente essas noites são escassas. Não fazer fretes e assumir que estamos zangados também é amor, ou pelo menos, sinceridade. Vive-se o bom e mau como se não houvesse amanhã... um dia não haverá amanhã. Quando esse dia chegar, saber-me-á bem olhar para trás e sentir que vivi tudo, que me foi dado muito, que dei o que de melhor tinha para dar.
    Sempre que me zango, penso: "Não, não quero ir para a cama zangada"

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